São Paulo vira "chão de fábrica" da IA: o que muda com o 6º centro global do Google Cloud
Esqueça os slides coloridos de tendências para 2030. A inteligência artificial corporativa no Brasil acaba de ganhar endereço físico, hardware pesado e data de entrega. Com a inauguração do **TCS Goog...
Esqueça os slides coloridos de tendências para 2030. A inteligência artificial corporativa no Brasil acaba de ganhar endereço físico, hardware pesado e data de entrega. Com a inauguração do **TCS Google Cloud Gemini Experience Center** dentro do Insper, em São Paulo, o país deixa de ser apenas um grande consumidor de tecnologia para virar um laboratório global de processamento.

Trata-se do sexto centro deste tipo no mundo — o primeiro na América Latina — e ele não chega sozinho. O movimento é sustentado por três pilares de concreto e silício anunciados para o final de 2025: a chegada das **TPUs Trillium** (os chips mais avançados do Google) aos data centers paulistas, a execução local do modelo **Gemini 2.5** e uma parceria inédita de soberania de dados com o **Serpro**.
Para o CIO brasileiro, o recado é aritmético: a latência vai cair, a capacidade de processamento vai quadruplicar e a desculpa de que "a regulação não permite" está prestes a expirar.
A infraestrutura sai do PowerPoint
O novo centro no Insper, fruto de uma parceria com a TCS (Tata Consultancy Services), funciona como um campo de provas. A ideia é que empresas testem ali o que a infraestrutura anunciada no Google Cloud Summit Brasil vai permitir em escala.
O grande diferencial não é o software, mas o "motor". Pela primeira vez, o Google Cloud trará para a região de nuvem de São Paulo a sexta geração de suas Unidades de Processamento de Tensor (TPUs), batizada de **Trillium**.
Por que o chip importa
Segundo Fernanda Jolo, head de Engenharia de Clientes de IA para a América Latina, o salto de hardware muda a economia do projeto. O Trillium entrega quatro vezes mais desempenho e é 67% mais eficiente energeticamente que a geração anterior.
Na prática, isso resolve a dor de cabeça do CFO: treinar e rodar modelos complexos localmente deixa de ser proibitivo. Com o **Gemini 2.5** e sua versão **Flash** rodando diretamente no Vertex AI em servidores brasileiros (a previsão é disponibilidade a partir de outubro/novembro de 2025), a latência para aplicações críticas — como detecção de fraude em tempo real ou atendimento automatizado — cai drasticamente.
O fim do dilema da soberania governamental
Talvez o movimento mais estratégico não venha do setor privado, mas de Brasília. O anúncio de que o Gemini rodará dentro da **Nuvem de Governo do Serpro** cria um precedente importante para a regulação de dados no país.
A arquitetura utiliza o *Google Distributed Cloud*. Em termos simples: a inteligência do Google roda fisicamente nos data centers da estatal brasileira, em ambiente isolado (alguns inclusive em configuração *air-gapped*, sem conexão direta com a internet pública).
Alexandre Gonçalves de Amorim, presidente do Serpro, define o arranjo como o caminho para "alcançar o progresso sem sacrificar a soberania". Para gestores públicos, isso significa que ferramentas de busca inteligente e análise de documentos sensíveis podem ser usadas sem que os dados do cidadão viagem para a Virgínia ou Frankfurt.
Quem já está pagando a conta (e vendo retorno)
O Brasil é visto por Thomas Kurian, CEO global do Google Cloud, como um dos mercados de desenvolvimento mais vibrantes do mundo. Não é retórica diplomática: 70% dos executivos de tecnologia do país afirmam ter bom conhecimento em IA e 62% já utilizam agentes.
A lista de empresas que já integraram o Gemini em suas operações é extensa e variada, provando que a fase de "curiosidade" acabou: * **Varejo e Serviços:** Casas Bahia, Centauro, Natura, Grupo Boticário. * **Finanças e Energia:** BV, Eletrobras, Vibra Energia. * **Saúde e Mídia:** Dasa, Hospital Sírio-Libanês, Globo.
O novo centro no Insper serve justamente para acelerar quem ainda está travado. Em vez de assistir a palestras, as equipes de TI e negócios usarão o espaço para co-criar protótipos com a TCS, desenhar agentes no *Agentspace* e testar integrações com sistemas legados (inclusive Oracle, via OCI Generative AI).
O apagão de mão de obra como barreira final
Hardware potente e data centers soberanos não rodam sozinhos. O Google sabe que o gargalo agora é humano. A empresa firmou o compromisso de capacitar **1 milhão de brasileiros** em nuvem e IA através de programas como o "Capacita+ IA".
O Experience Center no Insper também atua aqui, servindo como polo de formação prática. O objetivo é evitar que o país tenha a "Ferrari" (as TPUs Trillium e o Gemini 2.5), mas não tenha pilotos qualificados para tirá-la da garagem.
Para o executivo, o próximo passo é pragmático
Com a infraestrutura física se estabelecendo em São Paulo entre o fim de 2025 e o início de 2026, a conversa nas diretorias muda de tom. A pergunta deixa de ser "Como a IA funciona?" e passa a ser "Qual processo caro podemos automatizar com processamento local e baixa latência?". Quem chegar ao centro de experiência com essa resposta na ponta da língua — e dados organizados — terá uma vantagem competitiva real nos próximos anos.
Fontes
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