Telegram no Brasil: da ascensão à correção de rota — roadmap 30-60-90 para 2025
Entre 2019 e 2022, o Telegram saltou de 13% para 60% de instalação no Brasil e surfou a crise do WhatsApp. Em 2024, a realidade apertou: queda de usuários, engajamento fraco e maior escrutínio legal. ...
Entre 2019 e 2022, o Telegram saltou de 13% para 60% de instalação no Brasil e surfou a crise do WhatsApp. Em 2024, a realidade apertou: queda de usuários, engajamento fraco e maior escrutínio legal. Eis um roteiro de 90 dias para transformar canais, bots e dados em valor — ou decidir sair.

antes de mais nada
O cenário virou. Depois do pico em 2023 (65% dos dispositivos), o Telegram caiu para 63% em 23/01/2024 e chegou a 57% meses depois, segundo o Mobile Time/Opinion Box. O WhatsApp segue onipresente, entre 98% e 99% dos aparelhos. O Instagram, com DMs ativas em 91%, disputa atenção num scroll infinito.
Globalmente, há fôlego. Em 10/04/2024, Pavel Durov disse ter alcançado 900 milhões de usuários mensais e que metade acessa o app diariamente. No Brasil, porém, só 19% da base instalada abre o Telegram todos os dias, abaixo do Signal (26%). É ruído para muitos times. É oportunidade para quem executa bem.
" Só 19% da base instalada abre o Telegram todos os dias no Brasil (2024) "
A vantagem técnica continua: canais volumosos, arquivos de até 2 GB (4 GB no Premium desde 19/06/2022), múltiplas contas e sincronização em nuvem entre Android/iOS/Web/Desktop. Mas a competição apertou e o escrutínio legal cresceu, sobretudo após o TSE firmar acordos com plataformas em 14/02/2022 e cobrar colaboração. Foco e eficiência. É o jogo.
0–30 dias: diagnóstico e escolha do papel do Telegram
Comece auditando a base. Quem de fato abre? Quantos clicam? Qual segmento responde? Cruze com dados do CRM e do e-commerce. Projete cenários por cluster: clientes de alta frequência, compradores via PIX, B2B técnico, comunidade niche. Decida se o Telegram será canal core, nicho ou stand-by. Rápido, com critério.
Micro-história. Um varejista do interior de SP abriu um canal às pressas quando o WhatsApp ficou fora do ar em 17/12/2015. Em 48 horas, migrou ofertas e avisos logísticos. A audiência inicial foi alta, mas o engajamento murchou após a normalização. A lição foi simples: sem utilidade contínua, a curva cai.
Puxe a régua pelos dados públicos. Adoção: 65% em 2023 → 63% em 23/01/2024 → 57% meses depois. Assiduidade: só 19% abrem diariamente, abaixo do Signal (26%). Trate o Telegram como mídia de utilidade, não de massa. Menos posts, mais serviço: status de pedido, recall, changelog, alertas críticos.
Compliance já no dia 1. Faça checagem LGPD (base legal, consentimento, retenção, DPO), inventário de dados e DPIA light. Revise riscos regulatórios: histórico de atritos com TSE e autoridades; padrões de cooperação vêm mudando, mas a pressão permanece. Combine governança com política de moderação, termos do canal e regras de ban.
Orçamento típico para esta fase:
- Auditoria de dados e arquitetura: R$ 12.000 a R$ 25.000.
- Setup inicial do canal/bot e templates de privacidade: R$ 8.000 a R$ 15.000.
Marque a decisão go/no-go em 21/11/2025. Se a taxa de abertura única em 7 dias ficar abaixo de 10% e o custo por assinante superar R$ 5, reprecifique o papel do Telegram para nicho ou suporte.
31–60 dias: proposta de valor e produto de canal
Defina o job to be done do canal. Utilidade > volume. Três frentes funcionam no Brasil:
- Operacional: status de pedidos, aviso de retirada em agência, fila de atendimento, lembrete de boleto.
- Financeira: confirmação de PIX, conciliação de pagamento, alertas de cashback, mudança de tarifa conforme Bacen.
- Conteúdo técnico: documentação de API, changelog de app, calendário de manutenção, notas de versão.
Micro-exemplo. Uma PME de logística em Curitiba/PR implantou um bot de FAQ no Telegram para rastreio e reenvio de NF-e. Em três semanas, reduziu em 22% os tickets repetidos e liberou dois atendentes para casos complexos. Não houve mágica. Só roteamento decente, texto claro e horários de disparo no off-peak.
Aproveite os diferenciais nativos. Canais de transmissão com segmentação por tópicos, envio de arquivos até 2 GB (4 GB no Premium, lançado em 19/06/2022), múltiplas contas para gestores e sincronização nuvem-app. Publique em formatos que o WhatsApp limita: catálogos técnicos, PDFs, planilhas, changelogs. Cite datas quando útil, como “recurso atualizado em 10/04/2024” para respaldar governança de versões.
Brasilidade em cada passo. Envie confirmação de PIX em segundos e concilie baixa automática com webhooks do PSP. Garanta opt-in explícito no primeiro contato, privacy notice no topo do canal e link para política em domínio .br. Se seu público usa gov.br, avalie usar deep link para validar identidade em processos sensíveis.
Opex mensal estimado nesta etapa:
- Produção editorial (3 posts/semana + revisão jurídica): R$ 6.000.
- Moderação e community care em horário comercial: R$ 3.500.
- Bot simples (FAQ + tracking + confirmação de PIX): R$ 2.500 a R$ 4.000.
Data de estreia do canal: 12/12/2025. Entre com pacote de boas-vindas, tutorial do bot, política de dados e promessa de frequência. E cumpra.
61–90 dias: escala, automação e integração de dados
Hora de integrar. Ligue o bot ao CRM/CDP para segmentar por interesse, tags e jornada: onboarding, recompra, suporte, retenção. Use UTMs e parâmetros por campanha. Atribua cliques a conversões reais, sobretudo PIX e boleto, para fechar o loop com o financeiro e o time de growth.
Micro-história de edtech. Uma escola digital de São Paulo segmentou alunos por trilha (dados, UX, dev) e aplicou nudges no dia 30/60/90 do curso. O resultado: 12% mais conclusão no ciclo de 90 dias e 9% menos chamados de senha via bot. Foi execução cirúrgica, não verba alta.
Metas de saída dos 90 dias. Elevar a frequência de abertura diária acima do baseline de 19% para 30%–40% entre inscritos ativos. Reduzir o tempo de resposta a <5 minutos no horário comercial. Bater custo por assinante abaixo de R$ 3 e gerar pelo menos R$ 25.000 em receita atribuída por Telegram no trimestre.
LGPD sem atalho. Mapeie bases, sobretudo se hospedar dados fora do Brasil. Faça DPIA completo, minimize escopo (dados estritamente necessários), defina prazos de descarte e permissões por papel. Documente o fluxo de confirmação de PIX sem guardar dados sensíveis além do necessário para conciliação e compliance Bacen.
Custos desta fase:
- Integrações (middleware/API, CRM, gateway de pagamento): R$ 18.000 a R$ 40.000.
- Moderadores adicionais e auditoria de segurança: R$ 4.000 a R$ 9.000/mês.
Data de revisão de performance: 20/01/2026. A sala é de guerra, não de reunião: métrica na tela, decisão no ato.
riscos e pegadinhas
Risco regulatório e reputacional existem. O Telegram oscilou entre pouca colaboração e ajuste de rota. O TSE cobrou, a ANPD observa, e o humor do Judiciário pode mudar em eleição. Tenha plano B. WhatsApp é 98%–99% de penetração; Instagram DMs chegam a 91%. Prepare redundância, cross-post e um playbook de crise com responsáveis, tempos e mensagens.
Micro-relato. Uma ONG no DF migrou comunicações sensíveis para lista de e-mails + WhatsApp em 24 horas durante uma investigação, mantendo no Telegram só conteúdos de serviço e FAQ. Evitou desgaste e não perdeu alcance.
Contraponto — quando não usar. Se o seu público é massivo, visita diária é crucial e você não tem proposta de utilidade clara, o Telegram vira custo invisível. Evite virar “canal de repost” do Instagram. Evite ainda mais rodar atendimento sensível sem trilhas de auditoria, logs e consentimentos robustos. Em períodos eleitorais, siga as diretrizes do TSE e mantenha política de integridade rígida.
Gestão de risco e treinamento:
- Treinamento do time (moderação, LGPD, resposta a incidentes): R$ 6.000.
- Simulados trimestrais de crise e avaliação de conteúdo: R$ 4.500.
como aplicar no Brasil
- Jurídico e LGPD: defina a base legal (execução de contrato ou consentimento), cadastre o DPO, versiona a política de privacidade e publique changelogs com data. Faça DPIA, mapeie subprocessadores e verifique onde os dados ficam.
- Bacen e PIX: crie rotina de conciliação com seu PSP, padronize webhooks de confirmação e reconcilie contra o extrato. Não persista dados além do necessário.
- TSE e integridade: em 14/02/2022, o Tribunal fechou acordos com grandes plataformas. Mesmo sem Telegram à mesa naquele momento, seu programa de integridade deve espelhar o rigor: regras claras, moderação ativa, logs.
- TI e segurança: hardenize os bots, gere tokens rotativos, isole secrets, audite permissões em canais e contas múltiplas. Use SSO sempre que possível.
- Operação: combine horários de publicação com picos de conversão por cidade/UF. Teste com base em dados, não em palpite.
exemplos locais
Uma fintech de Recife viu o tempo médio de confirmação de PIX cair 63% em 45 dias após ativar um bot no Telegram que lia webhooks do PSP e devolvia comprovante com reconciliação básica e link para segunda via de NF. Com R$ 9.800 de Opex e R$ 21.000 de receita incremental atribuída, a taxa de churn no mês seguinte caiu 0,4 p.p. É pouco? Some trimestre a trimestre e a conta fecha.
No varejo alimentar, um marketplace paulistano usou canais para avisar janela de entrega e cupom de reentrega. Comparam cohort de clientes que aceitaram o canal vs. controle no WhatsApp. No Telegram, menos volume e mais precisão: -18% de no-show, +7% de reentrega no mesmo dia. O WhatsApp seguiu dominante, mas o Telegram virou a ferramenta de exceções.
Em SaaS B2B, uma HRtech em BH distribuiu changelogs técnicos pesados (PDF/CSV) via canal e reduziu o ruído no suporte. O e-mail levava a três cliques. O canal, a um clique e a um bot com dif do schema. Caiu o MTTR em integrações com bancos que usam CNAB e PIX Cobrança.
métricas, ROI e próximos passos
Defina KPIs por etapa 30/60/90:
- Crescimento de inscritos (meta: +20% no mês 2; +15% no mês 3).
- Custo por assinante (R$): alvo ≤ R$ 3, com CAC líquido ≤ R$ 5 em campanhas.
- Frequência de abertura diária: sair de 19% para 30%–40%.
- Tempo de resposta no bot/humano: <5 min no horário comercial.
- Conversões atribuídas por Telegram (R$): vendas via PIX/boletos; LTV incremental dos inscritos.
- Qualidade: taxa de opt-out, spam reports, aderência a LGPD (zero incidentes).
Benchmarks importam. O Signal marcou 26% de abertura diária; o Telegram fica em 19% (2024). Ajuste cadência e formato para subir degrau por degrau. Faça review quinzenal com checkpoints em 05/12/2025, 19/12/2025 e 03/01/2026.
Atribuição no Brasil pede disciplina. Capture UTMs, marque sessions por deep link e reconcilie com o financeiro. Não esqueça a base legal e o consentimento versionado. Projete ROI em 90 dias: exemplo conservador com 40 mil inscritos, 8% clique, 2% conversão média-ticket R$ 120 via PIX → R$ 76.800 de receita; Opex total R$ 28.000; ROI bruto ~1,7x. Ajuste pelo seu mix.
por que importa
O Brasil segue entre os cinco países com mais downloads do Telegram, com ~21,94 milhões. A escala global é real; o encaixe local, nem sempre. Quando o WhatsApp domina e o Instagram dita o ritmo, o Telegram precisa de utilidade nítida, compliance impecável e ROI claro em R$. Sem isso, vira distração cara.
O roadmap 30-60-90 aqui é um teste de maturidade. Se o canal se provar útil, dobre a aposta com automação e dados. Se não, saia elegante, mantendo a comunidade informada e as portas abertas. O pior custo é o invisível.
Fontes
Por que o Telegram tem perdido espaço no Brasil?
Tudo sobre Telegram - História e Notícias
Telegram está em queda livre em usuários no Brasil ...
Telegram alcança 900 milhões de usuários
Telegram tem queda de usuários pela 1ª vez no Brasil
O que fazer com o Telegram?, por Marcos Dantas – SindPD Ceará
Telegram cresce no Brasil e já está presente em 35% dos aparelhos nacionais