Ray Dalio 2.0: como o clone de IA embala 40 anos de princípios — e o que muda nos assistentes pessoais

Por Patricia Gomes
Ray Dalio 2.0: como o clone de IA embala 40 anos de princípios — e o que muda nos assistentes pessoais

Ray Dalio está embalando quatro décadas de mercado em um modelo de IA treinado com perguntas reais de usuários. A promessa: um mentor virtual que responde como ele, democratizando o acesso ao seu play...

Ray Dalio está embalando quatro décadas de mercado em um modelo de IA treinado com perguntas reais de usuários. A promessa: um mentor virtual que responde como ele, democratizando o acesso ao seu playbook — e abrindo uma nova categoria no mercado de assistentes, os “clones de fundadores”.

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O que mudou

Dalio ligou o modo laboratório. Em 15/10/2025, ele pediu no LinkedIn e no X que as pessoas enviassem perguntas sobre ouro. Em 16/10/2025, já havia centenas de interações, e o material passou a “alimentar” seu clone, segundo NeoFeed e MoneyTimes. É IA com sotaque do autor. Não é um bot genérico.

O escopo começou estreito: ouro, inflação, ciclos econômicos, tomada de decisão. O método é crowdsourcing de perguntas e respostas, depois curadoria para treinar o modelo. O projeto começou em 2024 e segue em testes. A ideia: escalar princípios de um livro e de uma gestora para o celular de qualquer pessoa.

“Estou usando as perguntas que recebo e minhas respostas para educar meu clone de IA” — Ray Dalio.

A virada no mercado é clara. Saem chatbots “para tudo”. Entram clones de especialistas com voz, memória e governança. Reid Hoffman já testou seu “gêmeo” de IA. E o apetite existe: 65% dos bilionários já usam IA na vida pessoal e 77% nos negócios, diz a Forbes (06/2025). No Brasil, o interesse cresce onde dói o bolso: atendimento, educação financeira, crédito e relacionamento — do PIX ao Open Finance.

Para o usuário, muda o contrato: não é um assistente neutro; é um “autor”. Para o regulador, muda o risco: quando um clone fala de finanças, fala sob a sombra de CVM, Anbima e Bacen. Para as marcas, muda o jogo: a promessa precisa vir com guardrails, logs e disclaimers. E com explicabilidade: a resposta tem de remeter aos Principles, não a um palpite.

Como operar aqui

Monetização primeiro, hype depois. Três caminhos práticos:

Diferenciais que importam no Brasil:

Arquitetura-alvo para executivos:

Casos reais

Micro-história: uma fintech de Recife viu o tempo de primeira resposta cair 38% em 60 dias após embutir um “analista virtual” no WhatsApp Business. O piloto custou R$ 95 mil e reduziu o custo por atendimento para R$ 1,80, com NPS subindo de 62 para 71. O pulo do gato foi usar Open Finance (opt-in) para adaptar explicações com dados reais da conta — sem tocar em recomendação.

Caso fictício, mas verossímil: uma asset brasileira lança um “CIO virtual” para clientes qualificados. Em 90 dias, corta o tempo de resposta em 40% e gera 12% mais engajamento em cartas mensais. Porém pausa temas de derivativos após detectar alucinações em backtests. Lições: afinar o RAG, estreitar o escopo, criar fluxo de revisão humana e manter logs para auditoria da CVM.

Lá fora, o próprio Dalio sinaliza o norte. Em 15/10/2025, ele convidou seu público a enviar perguntas sobre ouro. Em 16/10/2025, já testava respostas e coletava feedback público, relatou o NeoFeed. No Brasil, bancos médios e casas de análise começam a experimentar “clones de fundadores” para educação financeira e atendimento 24/7 — com tom pessoal, mas freios institucionais.

Para acelerar a adoção, pense nos ritos do cotidiano. Um investidor pessoa física recebe um resumo diário no WhatsApp às 8h, com contexto macro, dólar/juros e link para “pergunte ao clone”. Paga R$ 14,90 no plano light e faz upgrade via PIX quando quer simular impactos no seu perfil usando dados do Open Finance. Fricção zero, governança total.

Armadilhas comuns

Nem tudo deve ser clonado. Não comece se você não tem acervo canônico, direitos autorais e um guia de estilo firmado. Sem dados bons e datados, a IA vira palpite caro. E palpite caro em finanças pode virar passivo.

Risco macro existe. O próprio Dalio alertou para a possibilidade de bolha em IA, comparando com a pré-bolha das pontocom, segundo MoneyTimes. Ele também disse, em entrevista destacada pela Exame: “inutilidade e dinheiro podem não ser uma boa combinação”, defendendo políticas que deem propósito às pessoas diante da automação cognitiva. Tecnologia sem política pública é atalho para desigualdade.

Risco de marca e regulatório: um clone que “fala demais” sobre produtos vira alvo da CVM/Anbima. Mitigue com escopo educacional, filtros de linguagem, disclaimers visíveis, revisão humana e trilhas de auditoria. Guarde consentimentos e atendimentos sob LGPD com base legal clara e opção de opt-out. Tenha um runbook de incidentes e um DPO acionável.

ROI e dependências: custos de treinamento e inferência sobem com personalização e memória. Faça conta antes do hype. Estime custo por usuário ativo/mês entre R$ 4,00 e R$ 12,00 conforme volume e janela contextual. Crie gatilhos de desligamento por latência >2s P95, custo >R$ 15 por 100 conversas ou queda de acurácia abaixo de 85%.

Contraponto — quando não fazer: se seu negócio exige suitability e aconselhamento individualizado regulado, e você não terá humanos no loop, pare. Se o fundador não quer deixar claro onde a IA termina e ele começa, pare. Se não há apetite para auditar dados, versões e vieses, pare. Clone sem governança é convite para multa e manchete.

O que medir a partir de agora

Sinais de mercado (90 dias):

Plano 30/60/90 dias:

Critérios de sucesso e go/no-go: