Redwood capta US$ 350 mi: o case que une reciclagem de baterias e energia para data centers na era da IA

Por Mariana Santos
Redwood capta US$ 350 mi: o case que une reciclagem de baterias e energia para data centers na era da IA

A Redwood Materials, fundada pelo cofundador da Tesla JB Straubel, levantou US$ 350 milhões para acelerar uma cadeia fechada de baterias nos EUA e transformar baterias de VEs usadas em armazenamento p...

A Redwood Materials, fundada pelo cofundador da Tesla JB Straubel, levantou US$ 350 milhões para acelerar uma cadeia fechada de baterias nos EUA e transformar baterias de VEs usadas em armazenamento para data centers. Em meio à pressão por materiais críticos e energia para IA, a empresa afirma já processar cerca de 90% das baterias recicladas na América do Norte e mira ampliar capacidade e equipe. Segundo a companhia, é “um momento crucial” para os EUA: “redução no fornecimento internacional” junto ao “intenso crescimento da demanda doméstica” por materiais e produtos energéticos puxam iniciativas locais de reindustrialização e infraestrutura de energia [Reuters/TradingView, 10/2025; Fonte 2].

Fábrica de reciclagem de baterias com painéis solares e máquinas em um ambiente otimista.
A inovação na reciclagem de baterias impulsiona a energia sustentável para data centers na era da IA.

Mapa do assunto

o desafio de mercado: metais críticos e a “fome” de energia da IA

Há um aperto simultâneo: menos material vindo de fora, mais demanda dentro de casa. A Redwood não desperdiça a sincronização: “redução no fornecimento internacional” somada ao “crescimento da demanda doméstica” por materiais e energia abre espaço para cadeias locais de alto valor agregado [Fonte 2].

Enquanto isso, a IA turbinou o consumo energético dos data centers. Patrick Moorhead, da Moor Insights & Strategy, crava: “A geração, o armazenamento e o custo da energia necessária para alimentar as GPUs estão se tornando gargalos cada vez maiores” [Fonte 3]. A Redwood ataca o problema dos dois lados: maximiza a recuperação de lítio, cobalto, níquel e cobre de baterias usadas e, na outra ponta, entrega BESS para serviços de rede e data centers [Fonte 2].

No Brasil, o filme roda com atraso, mas com potencial: estudo da Greener projeta R$ 22,5 bilhões até 2030 em BESS. Em 2023, foram instalados 269 MWh em armazenamento, e 70% da capacidade hoje atende sistemas isolados. O MME espera viabilizar o 1º leilão de baterias em 2025. O gargalo? Regulação em construção, custo de capital alto e uma carga tributária que pode chegar a 79% do custo do sistema [Fonte 20].

a estratégia da redwood: closed loop + segunda vida para data centers

O plano agora é escalar o que vinha sendo testado: ampliar a coleta de baterias no fim da vida útil, refinar melhor para recuperar mais metais e fabricar materiais de bateria em solo americano — o tal “made in the US”, ainda raro nesse segmento [Fonte 1]. Em paralelo, a empresa reforça a contratação de “uma equipe técnica líder da indústria” para acelerar com qualidade e custo sob controle [Fonte 1].

A virada de 2025 veio com a “segunda vida” como produto para data centers: usar baterias de VEs descomissionadas em arranjos estacionários com custo competitivo, aliviando a rede e contratos de demanda que explodiram com o boom de GPUs [Fonte 3]. Curiosamente, a reciclagem virou porta de entrada para um negócio mais amplo. Nas palavras de Joe Fath, da Eclipse Ventures: “Penso que as pessoas classificam a Redwood de maneira equivocada, como uma empresa de reciclagem. A reciclagem é apenas a porta de entrada” [Fonte 3].

No Brasil, a tese encontra ressonância acadêmica e industrial. A UFSC conduz projetos com Nissan e BYD para segunda vida: em um deles, baterias descartadas carregam outros VEs para aliviar a rede em picos de recarga simultânea. E vale lembrar: o fabricante é responsável pela destinação adequada das baterias, prática alinhada ao PNRS [Fonte 7].

a rodada de US$ 350 milhões: quem entrou e para quê

Em outubro de 2025, a Redwood fechou US$ 350 milhões. Liderança da Eclipse Ventures, com participação da NVentures, braço de investimentos da Nvidia. O objetivo declarado: expandir operações de BESS, a produção de materiais e a base de funcionários [Fonte 2]. A presença de um investidor estratégico de IA (Nvidia) é sintomática: reciclagem e infraestrutura digital caminham juntas — do cobalto recuperado às salas brancas que treinam modelos generativos.

Essa rodada se soma a mais de US$ 1 bilhão da Série D de agosto de 2023, elevando o total de equity para quase US$ 2 bilhões, além de um compromisso de empréstimo de US$ 2 bilhões do Departamento de Energia (DOE). Após a captação de agosto de 2023, a empresa foi avaliada em US$ 5 bilhões [Fontes 1 e 2]. É capital para um jogo pesado em investimento e tempo de execução — errar um trimestre pode custar caro.

tração, parcerias e execução

Hoje, cerca de 90% das baterias de íon-lítio recicladas na América do Norte passam pela Redwood — dominância rara em mercados industriais fragmentados [Fonte 3]. Essa posição foi construída no silêncio da engenharia: recuperar materiais estratégicos, padronizar processos, ganhar rendimento, cortar custo.

As parcerias fecham o ciclo: Volkswagen, Panasonic, Toyota e Lyft ajudam a garantir fluxo de materiais e previsibilidade de demanda [Fonte 2]. A aposta é que essa logística reversa industrial, além de ambientalmente correta, se torne vantagem competitiva. O metal que não precisa ser minerado chega mais rápido e com menor pegada de carbono.

Mini‑perfil: JB Straubel. Cofundador da Tesla, foi CTO até 2019, quando saiu para escalar a Redwood. Em 2025, sob sua liderança, a empresa abriu a vertical de BESS para data centers — um passo que hoje parece óbvio, mas exigiu coragem regulatória, de produto e de mercado [Fontes 2 e 3]. Não à toa, a companhia insiste em “montar uma equipe técnica líder” para sustentar a próxima fase [Fonte 1].

“Penso que as pessoas classificam a Redwood de maneira equivocada... A reciclagem é apenas a porta de entrada.” — Joe Fath, sócio da Eclipse Ventures [Fonte 3]

o que o brasil pode aprender: regulação, players e oportunidades

Modelo integrado (coleta→refino→materiais→BESS) evita passivos, reduz dependência externa e cria insumos locais. A agenda conversa com a transição energética brasileira e com a PNRS. Em Brasília, amadurece o PL 2.132/2025, que cria a Política Nacional de Circularidade das Baterias, incluindo passaporte da bateria, metas de rastreabilidade e circularidade, e incentivos fiscais/creditícios. Também avança o PL 2.327/2021, que prioriza reciclagem e reaproveitamento de componentes no retorno ao ciclo produtivo [Fontes 15, 17 e 12].

Quem pode puxar a fila?

Micro‑história brasileira: em Florianópolis, pesquisadores da UFSC testam arranjos em que baterias de VEs, após anos de uso, viram buffers para recarga rápida. “Em um dos projetos, as baterias descartadas dos próprios carros elétricos são usadas para carregar outros carros elétricos”, conta o professor Ricardo Rüther — solução que evita sobrecarga da rede local em horários críticos [Fonte 7].

O que emperra: além de marcos regulatórios em formulação, o Brasil convive com tributação que pode elevar em até 79% o custo de sistemas com bateria. A previsão oficial é de realizar o 1º leilão de baterias em 2025, mas o cronograma exige alinhamento técnico e jurídico fino para que os projetos sejam financiáveis [Fonte 20].

Como operar aqui

“Como explica um gerente de operações de um data center no Triângulo Mineiro (exemplo hipotético), ‘sem bateria bem dimensionada, IA vira palpite caro: GPU ociosa esperando energia é prejuízo que não aparece no painel, mas dói no DRE’.”

Quem já faz

No agronegócio do Centro‑Oeste, um frigorífico de médio porte poderia usar BESS para suavizar partidas de compressores e mitigar quedas de energia — a diferença entre perder uma câmara fria e entregar lote no prazo. É o tipo de caso em que segunda vida faz sentido econômico imediato (exemplo hipotético).

Cheque de realidade

Nem todo uso pede segunda vida. Para cargas críticas de data centers Tier IV, com SLAs rígidos, a preferência ainda recai sobre baterias novas com certificações e garantias robustas. LFP e NMC performam de forma distinta em ciclagem profunda e temperatura; padronizar manutenção e monitoramento é mandatório. A oferta de baterias de segunda vida é, por definição, estocástica — depende da curva de adoção de VEs e de políticas de troca. E há um ponto sensível: sem marco regulatório claro (logística reversa, passaporte, responsabilidade compartilhada), o risco jurídico encarece projetos no Brasil [Fontes 15, 17 e 20].

próximos passos e riscos a monitorar

Para a Redwood, a agenda agora é execução:

Riscos: volatilidade de lítio, níquel e cobalto; atrasos regulatórios em interconexão e licenciamento; e a própria disponibilidade de baterias de segunda vida na quantidade e no perfil técnico certos [Fontes 2 e 3]. No Brasil, acelerar logística reversa, detalhar o leilão de baterias e ajustar incentivos fiscais pode derrubar o custo total de propriedade — hoje inflado por tributação que chega a 79% em BESS [Fonte 20].

O que medir a partir de agora

Fontes

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A empresa de reciclagem de baterias Redwood arrecada ...

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