Meta cai 7% após 3T25: encargo fiscal de US$ 15,9 bi derruba lucro; receita dispara e capex pressiona ROI

Por Rodrigo Barbosa
Meta cai 7% após 3T25: encargo fiscal de US$ 15,9 bi derruba lucro; receita dispara e capex pressiona ROI

O after-market puniu a Meta em ~7% após o 3T25: um encargo fiscal não monetário de quase US$ 16 bilhões distorceu o lucro e ofuscou um trimestre forte em publicidade e IA. A receita bateu US$ 51,24 bi...

O after-market puniu a Meta em ~7% após o 3T25: um encargo fiscal não monetário de quase US$ 16 bilhões distorceu o lucro e ofuscou um trimestre forte em publicidade e IA. A receita bateu US$ 51,24 bilhões e superou o consenso, mas o capex de 2025/26 e a conta de talentos em IA acenderam o alerta de ROI (retorno sobre investimento).

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Reflexões sobre os desafios financeiros que impactam o desempenho das empresas no cenário atual.

O que os números do 3T25 dizem

A fotografia do trimestre é clara: crescimento robusto do negócio principal, ruído extraordinário no lucro. A receita atingiu US$ 51,24 bilhões (+26% ano a ano), acima do consenso de US$ 49,36 bilhões apurado em 29/out/2025, com a tração da pilha de anúncios otimizada por IA no Facebook, Instagram e WhatsApp.

O lucro por ação GAAP ficou em US$ 1,05, muito abaixo do que o mercado esperava (~US$ 6,7). As projeções variavam de US$ 6,68 a US$ 6,72, dependendo da casa, e foram atropeladas por um encargo fiscal único de US$ 15,9 bilhões. Sem esse efeito, a própria Meta afirmou que o lucro líquido teria sido de US$ 18,64 bilhões, com EPS de US$ 7,25 — acima das estimativas.

No operacional, a máquina segue forte. A margem ficou em 40% (43% há um ano), com impressões de anúncios avançando 14% e o preço médio por anúncio subindo 10% no período. A “família de apps” somou 3,54 bilhões de usuários diários (+8% a/a). É aquela combinação difícil de ver: volume e preço andando juntos, apesar do ambiente competitivo em vídeos curtos.

O capex trimestral somou US$ 19,37 bilhões, refletindo a expansão acelerada da infraestrutura de computação. Ainda assim, o fluxo de caixa livre registrou US$ 10,6 bilhões — gordura importante para bancar a corrida de IA.

Micro-história (exemplo hipotético): um investidor pessoa física lê o push “EPS US$ 1,05” no app do home broker e vende no after-hours. Só depois, no PDF, encontra o rodapé: o lucro foi achatado por um imposto não caixa. É o clássico “apertar o botão antes de ler a nota de rodapé”.

O “golpe fiscal”: o que é e por que não muda o caixa agora

Uma mudança tributária nos EUA — associada ao chamado “One Big Beautiful Bill” e ao imposto mínimo alternativo corporativo (AMT) — levou a Meta a reconhecer uma provisão contábil (uma “valuation allowance”, essencialmente um ajuste de créditos fiscais). Daí a taxa efetiva ter disparado para 87% no trimestre; sem esse encargo, ficaria ao redor de 14%.

É um golpe contábil — deprimente para o 3T25, sim —, porém não sai do caixa agora. A gestão indicou que a mudança reduz de forma relevante os impostos em dinheiro nos EUA no restante de 2025 e nos anos seguintes, ainda que tenha distorcido o lucro reportado do trimestre. Em 29 de outubro, quando soltou o balanço, a empresa detalhou o tamanho do efeito: US$ 15,93 bilhões.

“É um encargo não recorrente e não monetário”, reforçou a administração na divulgação. Em linguagem de call, o recado foi direto: não sai do caixa neste trimestre — embora produza ruído suficiente para derrubar a ação no pós-mercado.

A ironia é previsível: o mesmo investidor que pede “mais transparência” sobre impostos corre para a saída quando vê o EPS comprimido por algo que não afeta o caixa imediato.

Crescimento puxado por IA vs. a conta que vem aí

Se o trimestre provou que a máquina de anúncios está afinada, a fatura da IA chegou — e é grande. O guidance de capex foi elevado para US$ 70–72 bilhões em 2025, e 2026 deve ser “notavelmente maior”. No próprio 3T, os investimentos alcançaram ~US$ 19,4 bilhões. Não é capricho: são data centers, redes, aceleradores e software para treinar e servir modelos de fronteira.

Ao discutir 2025, a CFO, Susan Li, sinalizou que as necessidades de computação continuam a se expandir e que a companhia vai investir de forma agressiva — combinando infraestrutura própria e contratação de nuvem de terceiros. Ela também apontou que os custos com pessoal devem ser o segundo maior vetor de despesas, puxados pela remuneração de talentos em IA contratados ao longo de 2025.

Na infraestrutura, a Meta vem desenhando mega data centers e clusters de IA de próxima geração. A ambição pública — construir capacidade bruta para treinar modelos e distribuir recursos de IA em escala — explica a aceleração de gastos. O cronograma mantém marcos plurianuais, com novas capacidades começando a entrar a partir de 2026.

Do lado da monetização, os sinais são concretos, embora nem todos plenamente mensuráveis. A pilha de anúncios, recalibrada por IA, vem ganhando eficiência; a empresa expandiu formatos no WhatsApp e no Threads, enquanto o Reels disputa com TikTok e YouTube Shorts um pedaço crescente do bolo de vídeo. A unidade Reality Labs cresceu em receita recentemente, mas carrega um histórico de prejuízos robustos e segue pressionando as margens consolidadas.

Micro-história (exemplo hipotético): uma loja de moda fitness de Joinville (SC) migra parte do orçamento para campanhas automatizadas por IA no Instagram. Em seis semanas, o CPA cai de R$ 32 para R$ 25, com o algoritmo reotimizando criativos e públicos. “Antes era ajuste manual. Agora, a escala vem junto”, diz a sócia, aliviada ao ver o custo por compra voltar aos níveis pré-sazonais.

Reação do mercado e o que está precificado

A ação despencou 7–8% no after-hours, negociando a US$ 688,88 (-8,35%), com dois choques simultâneos: o lucro reportado “esticado” pelo imposto e a elevação do capex, que sugere risco de compressão de margem e de fluxo de caixa livre no curto prazo. O recado dos preços foi menos sobre a qualidade do trimestre e mais sobre o custo do futuro.

Riscos no radar:

Como resumiu um gerente de CX de varejo no Recife (exemplo hipotético): “Sem dado bom e janela longa, IA vira palpite caro.” O mercado quer exatamente o contrário: métricas que comprovem produtividade e novas receitas em cima da capacidade instalada.

Contraponto necessário: há momentos em que “pagar para ver” não compensa. Se a sua tese não tolera volatilidade de dois dígitos ou a possibilidade de 2026 ser um ano de pico de capex com margens comprimidas, talvez não seja a hora de aumentar exposição só porque a queda no after queimou a mão de muita gente.

O que acompanhar nos próximos trimestres (e implicações para o investidor no Brasil)

Catalisadores de prova de ROI:

Métricas financeiras para o radar:

Para quem investe via BDRs na B3, dois lembretes práticos:

Micro-história (exemplo hipotético): um multimercado em Belo Horizonte trava 50% da exposição cambial do BDR antes do resultado. No dia seguinte, a queda do BDR dói menos; a depreciação intraday do real compensa parte da perda. “Hedge é como cinto de segurança: não evita o acidente, mas salva na freada”, brinca o gestor.

Para fechar, vale lembrar: a tese Meta virou, explicitamente, uma tese de infraestrutura de IA com alavancas de monetização em anúncios e mensageria. Não é trivial, não é barata, nem é de curto prazo. Mas é mensurável. A história agora se escreve nos capex, nos planos de contratação e, principalmente, na conversão disso tudo em receita recorrente e margem sustentável.

Fontes

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