Guia prático 2025: os hubs que mais cresceram no Brasil — onde montar times, reduzir custos e acessar talentos
Em 2025, hubs emergentes de Santa Catarina e o fortalecimento do Rio de Janeiro redesenharam o mapa da inovação no país, mesmo com o Brasil crescendo abaixo da média global no índice StartupBlink. Sta...
Em 2025, hubs emergentes de Santa Catarina e o fortalecimento do Rio de Janeiro redesenharam o mapa da inovação no país, mesmo com o Brasil crescendo abaixo da média global no índice StartupBlink. Startups que distribuíram equipes para esses polos reportam economias de 50–75% versus contratações equivalentes nos EUA, mantendo acesso a talento qualificado e alinhamento de fuso.

Antes de mais nada
Se você é CEO, CTO ou head de People olhando para América Latina, 2025 trouxe uma mensagem clara: o Brasil continua líder regional em startups, mas a geografia interna do talento mudou no mapa mental. O eixo não é mais só “SP ou nada”. Santa Catarina deu um sprint, o Rio de Janeiro subiu ao pódio nacional, e Recife se consolida como fábrica de produto e design. Tudo isso enquanto o país, no ranking global, andou menos do que a média — um paradoxo produtivo.
Curiosamente, a estratégia que mais funcionou não foi “um escritório gigante”, e sim células distribuídas com rituais síncronos. O fuso alinhado às Américas ajuda. E o bolso agradece: líderes de engenharia relatam economia de 50–75% versus equivalentes nos EUA sem sacrificar qualidade.
“Não é o CEP que derruba seu NPS interno; é processo. Em Joinville ou em São Paulo, sprint bem rodado dá o mesmo resultado.” — gerente de CX em empresa de varejo
O que mudou no mapa dos hubs brasileiros em 2025
O retrato de 2025: o Brasil manteve a 27ª posição global e segue líder da América Latina em ecossistemas de startups, com 28 cidades entre as 1.000 melhores do mundo. É mais do que no ano anterior, sinal de capilaridade crescente. Isso aparece com nitidez quando abrimos o país cidade a cidade.
- São Paulo permanece isolada no topo nacional e 23ª no mundo. A pontuação paulistana é quase oito vezes a do segundo colocado. O efeito rede — capital, mentores, mercado — segue jogando a favor.
- O Rio de Janeiro assumiu a 2ª posição no Brasil. Globalmente, caiu levemente e aparece na 147ª colocação, mas aprimorou sua “massa crítica” doméstica. Para quem precisa acesso a corporações, mídia e energia, é um recado importante.
- Santa Catarina virou notícia boa. Cidades como Joinville e Rio do Sul figuraram entre as que mais subiram no ranking nacional. O desenho é conhecido de quem olha supply chain de talento: base industrial + engenharia + qualidade de vida.
- Curitiba perdeu 12 posições e caiu para a 149ª global, sua pior marca desde 2020. Não é o fim do mundo, mas acende alerta sobre disputa de capital humano dentro do Sul.
Em termos de América Latina, o Brasil ainda puxa a fila, com cinco cidades no top 10 regional. O pano de fundo: mercado interno grande e presença de corporações, aceleradoras e fundos que alimentam dealflow e programas de inovação.
Os hubs que mais aceleraram: por que considerar cada um
Santa Catarina (Joinville e Rio do Sul, com apoio de Floripa)
O que o ranking sinaliza: Joinville e Rio do Sul estão entre as maiores altas no cenário nacional de 2025. A combinação de densidade industrial, universidades e uma comunidade técnica coesa favorece P&D aplicado, produto e engenharia de qualidade. Florianópolis, por sua vez, funciona como “aeroporto e vitrine”, com voos e eventos que dão tração.
- O que atrai: custo de vida e salários abaixo de SP; ambiente com menos turnover em comparação aos grandes centros; e logística decente via Florianópolis e Navegantes.
- Operação: para squads de software e hardware embarcado, a proximidade com fornecedores e parques industriais encurta ciclos de prototipagem.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma scale-up de varejo migra um squad de produto de SP para Joinville. Em 60 dias, abre 10 vagas e fecha todas, reduzindo o time-to-hire em 35%. O NPS interno do time se mantém estável com cerimônias remotas bem estruturadas.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma fabricante de máquinas implementa um capítulo de IoT em Rio do Sul para telemetria de campo. Em três meses, acelera a validação de firmware graças ao acesso a chão de fábrica parceiro.
Rio de Janeiro (2º no país em 2025)
O Rio voltou ao centro da conversa. Além da posição nacional, concentra corporações de energia, mídia e finanças, e mantém universidades-âncora como UFRJ e PUC-Rio. O efeito vizinhança ajuda fintechs, govtechs e edtechs a pilotarem com parceiros “enterprise”.
- Acesso a talentos: engenharia com perfil quantitativo, design e dados. A agenda regulatória e os trilhos de pagamentos facilitam idas ao mercado para meios de pagamento e crédito — e o Rio tem oferta de compliance e risk analytics nas adjacências.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma fintech de crédito instala célula de risco no RJ. Em 12 meses, o churn de devs sênior cai graças a um arranjo híbrido com dois dias de escritório perto do metrô e trilhas técnicas com mentores da UFRJ.
Recife (Porto Digital)
Clássico que se atualiza. O Porto Digital consolidou-se com pipeline de talentos do CESAR e da UFPE, e uma comunidade madura de software e design. Historicamente, o parque reportou mais de 330 empresas e 11 mil empregos — densidade que sustenta squads fim a fim.
- O que entrega: ótimo custo-benefício para capítulos de QA, produto e UX. O fuso alinhado ao Sudeste e a cultura de projetos complexos são diferenciais para scale-ups.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma healthtech abre um hub de QA no Recife, padroniza testes end-to-end e melhora a cobertura em 30% em três sprints, mantendo o SLA de regressão estável.
Campinas e o eixo interior de SP
O “Brazilian Silicon Valley” de Campinas não é apelido vazio. UNICAMP, CPqD, laboratórios e uma base corporativa (de IBM a Bosch) compõem um ecossistema fértil para deeptech, telecom e ciência aplicada. A 1h30 de SP, mantém acesso a investidores com custo de locação e folha abaixo da capital.
- Estratégia típica: P&D e engenharia de produto em Campinas; go-to-market e marketing em São Paulo. Dá para capturar o melhor dos dois mundos.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma agtech de sensoriamento remoto monta P&D no interior de SP e mantém vendas na capital. O custo cai e os pilotos com produtores aceleram.
Quanto custa montar times: faixas salariais, regime e economia real
Há um motivo econômico robusto para olhares internacionais e nacionais convergirem ao Brasil: salários de tecnologia na América Latina tendem a ser 50–75% menores do que nos EUA para funções equivalentes. Em 2025, o pacote total de um desenvolvedor no Brasil gira em média ao redor de US$ 31 mil/ano, ante seis dígitos em grandes mercados norte-americanos.
No recorte local, um Software Developer no Brasil recebe, em média, cerca de R$ 79.764/ano; um Software Engineer, R$ 120.791/ano. Em São Paulo, não raro a remuneração mensal de engenheiros gira entre R$ 11 mil e R$ 12 mil. Em praças como RJ, SC e Recife, a régua tende a ser menor, mantendo competitividade.
- Regime CLT e encargos: ao planejar o custo total, lembre do 13º salário, adicional de 1/3 nas férias, FGTS de 8% e INSS patronal na casa de ~20%, além de benefícios como VR/VA e plano de saúde. Esse “gross-up” muda a conta rapidamente — e varia por CNPJ, sindicato e acordos.
- Estratégias de redução de custo: distribuir squads entre hubs com faixas salariais menores; adotar modelo híbrido (menos m², mais qualidade de vida); iniciar via EOR quando ainda não faz sentido abrir CNPJ. Em cenários típicos, equipes baseadas em Recife ou SC reduzem a folha versus SP sem perda de senioridade — desde que o desenho de carreira esteja claro.
- Benchmarks operacionais: mesmo sem um número único para todo o país, empresas relatam time-to-hire menor em polos com excesso de demanda por desafios técnicos (Joinville) e rotatividade mais baixa em células próximas a universidades e programas de pós.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma edtech abre um capítulo de engenharia em Recife. Mantém o mesmo SLA de entrega, mas economiza 22% na folha total em 9 meses graças à combinação de faixas locais, escritório enxuto e trilha de crescimento bem definida.
Talento e infraestrutura: onde está o pipeline e o que habilita a escala
O funil de talentos é volumoso e diverso. O Brasil forma algo como 46 mil graduados de TI por ano e conta com por volta de 2.400 instituições de ensino superior. Universidades-âncora — UNICAMP, UFSC, UFPE, UFRJ — alimentam estágios, residências e bootcamps.
O mercado digital é testável e grande: 183 milhões de usuários de internet (86,2% de penetração) e 144 milhões de perfis sociais em 2025. Para produtos B2C, a iteração fica mais rápida; para B2B, a densidade de corporações facilita pilotos.
- Regulação e trilhos de inovação: a LGPD fornece o baseline de privacidade. Em 2025, discutem-se marcos de IA, nuvem e cibersegurança; temas que impactam do design de produto ao compliance. Em fintech, rails modernos e a agenda do Bacen seguem como diferencial de go-to-market. O Brasil lidera a região em número de fintechs (700+) e concentrou 42% do funding do setor na América Latina em 2024.
- Infraestrutura e conectividade: hubs com data centers, boa latência e malha aérea frequente tornam cerimônias diárias e pair programming viáveis com equipes nas Américas. Parece detalhe, mas vira gargalo quando o uptime de pessoas importa tanto quanto o da cloud.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: uma scale-up integra squads RJ–SC com daily às 9h, code reviews padronizados e SLOs por serviço. O desempenho DORA se mantém estável por seis meses, e a taxa de retrabalho cai 12% após padronização de pipelines.
O que deu certo (e por quê)
Três padrões se repetem nos cases que prosperaram:
- Distribuição inteligente: alocar risco em RJ (dados/compliance), feature teams em SC (engenharia) e discovery em Recife (produto/UX).
- Gestão de carreira: definir trilhas e manter rituais sólidos reduz o churn mais do que qualquer “geladeira retrô” no escritório.
- Proximidade com universidades: convênios e residências técnicas abastecem a base e turbinam treinamento on-the-job.
“Carreira clara paga mais do que pingue-pongue. Mentoria semanal segurou mais gente do que qualquer craft beer no happy hour.” — CTO em empresa B2B
A leve ironia da temporada: enquanto o Brasil crescia abaixo da média global no ranking, times que saíram do óbvio conseguiram crescer acima da média nos seus próprios indicadores.
Armadilhas comuns
Nem tudo é economia. Alguns tropeços frequentes:
- Subestimar encargos e benefícios — a conta CLT é mais alta do que a planilha inicial costuma sugerir.
- Ignorar diferenças culturais entre hubs — rituais e comunicação precisam se ajustar à realidade local.
- Pilotos longos demais — se o MVP do hub leva um ano, já não é mais MVP.
- Não medir o que importa — sem DORA, NPS interno e time-to-hire, é voo às cegas.
Efeitos colaterais
Ganhos de custo e talento vêm com efeitos colaterais:
- Guerra por seniors em hubs em ascensão, puxando salários pontualmente.
- Pressão por espaço físico híbrido que faça sentido (não é WeWork por default).
- Complexidade de compliance quando há múltiplas praças e regimes simultâneos.
Como aplicar no Brasil
Comece com o básico bem feito: mapeie o funil de talentos por hub, alinhe com sua trilha de carreira e defina seus SLOs. A partir daí, evite o “one size fits all”. Em SC, a densidade industrial pode acelerar hardware e IoT; no RJ, dados e finanças; em Recife, produto digital.
Como escolher seu hub em 90 dias: critérios, checklist e próximos passos
Critérios decisivos (sugestão de pesos):
- Fit setorial: 30% (fintech, govtech, deeptech, varejo).
- Densidade de talento e universidade âncora: 25%.
- Custo total (salário + encargos + escritório): 25%.
- Acesso a corporações, aceleradoras e transporte: 10%.
- Segurança jurídica e facilidade operacional: 10%.
Roteiro prático
- Semanas 1–2:
- Monte um shortlist com base no ranking 2025 (SP, RJ, SC, Recife, Campinas).
- Faça mapeamento salarial por praça e senioridade. Como referência de planejamento:
- SP (SE): R$ 11k–12k/mês.
- RJ: ligeiramente abaixo de SP.
- SC (Joinville/Floripa): abaixo de SP, com variação por senioridade.
- Recife: patamar competitivo para mid/senior.
- Liste parceiros locais (universidades, aceleradoras, EOR).
- Semanas 3–6:
- Execute um piloto com 5–10 pessoas via EOR ou filial.
- KPIs: time-to-hire (<45 dias), retenção 90 dias (>90%), DORA estável, CSAT interno >80%.
- Semanas 7–12:
- Decisão de escala por métricas (não por feeling).
- Negocie incentivos locais.
- Checklist legal: contratos CLT, política de home office, benefícios, LGPD by design, segurança da informação, comitê de ética de IA (se aplicável), política de BYOD e offboarding seguro.
Métricas de sucesso (12 meses)
- Economia vs baseline (EUA e SP): 30–50% em custo total por FTE, mantendo produtividade.
- Qualidade de entrega: estabilidade de SLOs e redução de retrabalho.
- Saúde do funil de talentos: tempo de reposição, porcentual de indicações internas e diversidade.
- [Micro-história — exemplo hipotético]: após um piloto de 90 dias no RJ, uma empresa de mídia decide consolidar o hub na cidade. Em 12 meses, o lead time de features cai 18% com squads mais próximos de parceiros corporativos e o capítulo de dados em parceria com a PUC-Rio.
O que mudou no bolso (sem ilusão de ótica)
- O delta EUA–Brasil continua relevante, com 50–75% de diferença em salários de tecnologia. Em casa, não ignore o “efeito CLT” no custo total: 13º, férias com 1/3, FGTS e INSS patronal somam. Planejar com o custo total por FTE evita surpresa no mês 7.
- Em hubs fora de SP, a economia não vem só do salário, mas de menor rotatividade e escritórios enxutos. Economizar 20% perdendo seniors sai caro. Economizar 15% ganhando estabilidade sai barato.
Contraponto: quando NÃO fazer
- Se a disciplina de engenharia ainda é frágil, distribuir times só amplifica ruído.
- Produtos em estágios ultra iniciais, que exigem pivôs semanais com vendas e liderança colados, podem precisar de uma fase “colocated” antes de distribuir.
- Se o core é hardware pesado sem fornecedor local, ir para onde há marketing não resolve a logística.
Em resumo
O Brasil de 2025 é, ao mesmo tempo, estável no ranking global e dinâmico por dentro. São Paulo segue dominando, mas quem quer montar times eficientes tem razões sólidas para olhar para Santa Catarina, Rio e Recife. O jogo é escolher o hub certo para cada capítulo da sua organização e executar com métricas, não com hype.
Fontes
Startup Ecosystem Ranking 2025: Where to Launch in Latin America?
Global Startup Ecosystem Index Report by StartupBlink
Inovação: Brasil patina no ranking global de ecossistemas
Brasil tem o melhor ambiente para startups em LatAm, mas ...
Ranking das melhores cidades do mundo para startups - VIA - Estação Conhecimento