Do sensor ao supercomputador: o AI Center da Tractian e o salto da manutenção preditiva no Brasil

Por Patricia Gomes
Do sensor ao supercomputador: o AI Center da Tractian e o salto da manutenção preditiva no Brasil

Com R$ 60 milhões, 10 mil m² e uma base privada de supercomputação comparada a 20 mil PS5, a Tractian inaugurou em São Paulo um centro que une data center e chão de fábrica sob o mesmo teto. O recado ...

Com R$ 60 milhões, 10 mil m² e uma base privada de supercomputação comparada a 20 mil PS5, a Tractian inaugurou em São Paulo um centro que une data center e chão de fábrica sob o mesmo teto. O recado é direto: a manutenção preditiva saiu do piloto, virou infraestrutura — e deve mexer em capex, talento e governança de IA na indústria brasileira nos próximos 24 meses.

Centro de inovação com supercomputador, sensores e engenheiros em ambiente tecnológico.
Um novo horizonte para a manutenção preditiva no Brasil, impulsionado pela inovação e tecnologia.

O que o AI Center revela sobre a estratégia industrial de IA no Brasil

Inaugurado em novembro de 2025, o campus materializa um novo padrão de desenvolvimento: hardware, software e modelos de IA concebidos e validados em máquinas reais antes de escalar. Segundo a empresa, trata-se de seu projeto mais ambicioso na América Latina, prioridade após a Série C em 2024.

“É possível desenvolver tecnologia de ponta no Brasil”, disse o CEO, Igor Marinelli. “Criamos um ambiente onde engenheiros tenham autonomia, propósito e os melhores recursos para fazer história.”

A escala e a conta do projeto

Investimento

R$ 60 milhões, sendo R$ 45 milhões de caixa e R$ 15 milhões da FINEP, de acordo com a companhia.

Infraestrutura

10 mil m² e capacidade para equipes multidisciplinares distribuídas em hubs de IA, software, hardware, ciência de dados, robótica autônoma e monitoramento industrial.

Computação

Base privada dedicada ao treino de algoritmos industriais — a empresa compara sua capacidade a 20 mil PS5 (ou 8 mil MacBooks Pro).

Data center e chão de fábrica no mesmo endereço

O arranjo encurta o ciclo “modelo-linha”: treinar, validar em ambiente real, implantar. A proximidade entre supercomputação e laboratórios de máquinas, somada a parcerias acadêmicas no Brasil e no exterior, reduz o risco do “modelo que não generaliza” e acelera o time-to-value. Na prática, menos tentativa e erro. Mais disponibilidade.

A manutenção preditiva como beachhead de valor

Na indústria, disponibilidade é dinheiro. A preditiva ataca onde dói: evita paradas não programadas, eleva OEE e troca peça por condição, não por calendário. O AI Center funciona como lastro para transformar esse ROI em padrão de contrato e de governança, especialmente em linhas de alimentos, bebidas, papel e celulose e mineração — onde cada hora de downtime tem peso.

O tamanho do bolo e as curvas de adoção

Segundo a Data Bridge Market Research, o mercado global de manutenção preditiva foi estimado em US$ 8,89 bilhões em 2024 e pode chegar a US$ 83,45 bilhões em 2032, um CAGR de 32,3%. América do Norte lidera hoje; a Ásia-Pacífico acelera com programas nacionais de manufatura inteligente.

Gráfico (texto) — 2024 vs. 2032

Micro-história — quando “falta de lubrificação” vira insight em minutos

Caso de uso típico: sensores capturam vibração e temperatura, o software cruza com o datasheet do fabricante e recomenda a ação — trocar um componente, ajustar torque, escolher o lubrificante adequado. A intervenção vira tarefa planejada. A linha segue rodando.

“Sem dado vivo, IA vira palpite caro”, resume o gerente de manutenção de uma planta de alimentos no Nordeste.

Antes e depois (KPI de disponibilidade)

Antes

Inspeções por calendário e paradas não programadas.

Depois

Manutenção por condição, plano de intervenção e OEE como norte.

Termômetro do mercado

A adoção cresce, mas o gargalo continua no chão de fábrica: custo de implantação, carência de especialistas e integração OT/IT.

Adoção, custos e falta de especialistas

Quem já faz

O novo campus foi desenhado para times grandes e multidisciplinares. Segundo a empresa, a combinação de laboratório com supercomputação dá base para rollouts multi-planta sem POCs intermináveis. A Tractian projeta, com o AI Center, ganhos anuais de disponibilidade industrial que podem somar R$ 120 bilhões em até cinco anos — se a adoção em escala vier.

Compliance e alertas

A governança da IA industrial não é tema só de TI; envolve engenharia, jurídico e segurança.

Políticas públicas e compliance no chão de fábrica

Ecossistema e competição: OEMs, integradores e plataformas independentes

A disputa não é só por tecnologia — é por quem captura o uptime.

Quem vende disponibilidade, vence

De um lado, fabricantes de máquinas (OEMs) empacotam equipamento + manutenção. De outro, plataformas de IA puxam contratos com SLA de disponibilidade. Um centro com laboratório e compute de alto nível ajuda a oferecer “industrial-grade” e a reduzir o tempo de implantação entre plantas.

Riscos estratégicos para os players

Playbook local: agenda prática de 90 dias para COOs e CFOs

Trate disponibilidade como linha de receita. Selecione casos que mexem no OEE e no custo de parada — com payback claro.

Passo 1 — Diagnóstico rápido e caso âncora

Passo 2 — Arquitetura e dados: borda, nuvem e cibersegurança OT

Definir padrão de sensores, processamento na borda vs. nuvem e integração com CMMS/ERP. Fechar política de redes industriais e acesso a dados.

Checklist técnico (essencial)

Passo 3 — Contrato e financiamento orientados a resultados

Passo 4 — Piloto em 90 dias e plano de escala

Passo 5 — Talento e parceria acadêmica

Ative o polo de colaboração: visitas técnicas, hackathons, intercâmbio com universidades (Poli-USP, Unicamp, Unesp, entre outras). Metas trimestrais de capacitação e certificações.

Notas finais de execução

O que medir a partir de agora

Quando não fazer

Se o ativo é de baixa criticidade e o custo/hora de parada é irrelevante, o CAPEX em sensores e integração pode não fechar a conta. Em ambientes com padrões de falha raros e estáveis, a manutenção programada continua sendo ótima engenharia. Nem toda graxa precisa de GPU.

Fontes

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